
ENTREVISTA PILOTO VOLKMAR BERCHTOLD
Postado em 14 de setembro de 2020.
Natural de Schreder (SC), Volkmar Gustav Berchtold Filho vem de uma família tradicional do DH brasileiro. Começou precocemente aos 2 anos de idade, incentivado pelo seu falecido pai. Aos 4 anos já pilotava as bikes com o apoio de seu primo / irmão mais velho, o supercampeão de DH Markolf Berchtold. Seguiu os passos vitoriosos de Markolf e conquistou títulos importantes como o brasileiro de DH e o sonhado título Pan-americano, em 2018 na Colômbia. Confira esse bate papo com o atleta GaiaMX que tem a superação como uma de suas características.
1 – Você vem de uma família tradicional do DH Brasileiro. Nos conte um pouco como começou sua paixão pelo esporte.
Meu pai “in memorian” era piloto de motovelocidade, e meu tio era atleta de ciclismo. Meu primo Markolf, que é 5 anos mais velho que eu, iniciou no Motocross. Então acabei sempre indo atrás dele. Logo passamos ao MTB onde futuramente fomos naturalmente direcionamos ao Downhill. Minha paixão já veio no sangue, acho que somos um caso diferente, nós não somente amamos isso, nós vivemos isso 24h por dia!
2 – Seu irmão / primo Markolf é uma lenda do esporte nacional. De que forma ele influenciou sua trajetória profissional? Em algum
momento de sua carreira se sentiu pressionado a também alcançar os resultados expressivos que seu irmão conquistou? Isso te atrapalhou de alguma forma?
Markolf é meu primo, porém ele é mais do que um irmão. Ele foi meu incentivador, irmão, pai, ídolo. Sempre pegou no meu pé, cobrando mais e mais. Quando jovem eu deixei a desejar nos treinos, não tive a determinação que ele teve, e tenho certeza de que poderia ter ido muito além de onde fui. Com a determinação que tenho hoje, eu teria conquistado tudo que conquistei mais cedo. De certa forma, eu sempre gostei de ter o melhor da história como meu professor, um privilégio. Mas, sei que muito que conquistei às vezes ficava apagado, como 2 vices campeonatos nacionais na categoria ELITE, onde perdi justamente pra ele. Sempre me comparavam com ele, então as vezes era difícil, mas hoje olho para traz e vejo que sou o Volkmar. Sempre humilde, mas sei que mereço respeito pela história que fiz e faço no MTB Brasileiro.
3 – Tanto no DH quanto no motocross as lesões são constantes. Você traz em sua história lesões e muita superação. Como está fisicamente? Pretende ou consegue andar em alto nível por mais quantos anos?
Tenho mais de 30 anos de competições e minhas lesões mais graves foram nos últimos anos. Busquei ajuda física e nutricional. Evolui muito e estou muito bem fisicamente. Entre os meus sonhos, o único que ainda não conquistei é uma medalha de Mundial. Esse ano estava focado nisso, infelizmente foi cancelado devido a Pandemia, mas no próximo ano vou para o Mundial Master em busca desse sonho. Sei o quanto será difícil, por isso estou fazendo coisas que nunca fiz.
4 – Você está em um seleto time que conquistou o título Pan Americano. Pode nos contar um pouco como foi essa conquista na Colômbia em 2018?
Foi incrível, emocionante. Eu com 33 anos nas costas, vinha de 2 medalhas em Pan na categoria Ma1. O primeiro no Peru ganhei o Qualify com uma vantagem enorme, mas na prova acabei deixando a emoção tomar conta, acabei caindo e deixei o sonho ir embora. Conquistei a prata com o gosto mais amargo que já conquistei uma medalha. No ano seguinte fui Bronze, muito próximo do Ouro. Já em 2018 comecei o ano e fraturei o braço, pouco tempo antes do Pan. Eu sabia que aquilo poderia deixar tudo mais difícil, mas estava tão forte mentalmente que quando levantei da cirurgia prometi a mim mesmo que iria sacrificar tudo que fosse necessário para chegar lá preparado, mesmo com tempo curto. Corri uma prova na pista do Pan no final de semana anterior, perdi o Qualify por 1 segundo, perdi a prova por 1 segundo. No final de semana seguinte era o grande dia, corri o Qualify e perdi para esse mesmo colombiano por 1 segundo. Na hora da final, antes de largar cheguei a chorar, sozinho. Ainda faltava mais de 1 hora pra eu largar e pensei: não posso cometer o mesmo erro, a emoção de estar na briga pelo título é algo difícil de controlar. Respirei fundo, foquei na pista e pensei… hoje eu não perco por nada, eu treinei mais que todos aqui, e tinha certeza disso. Fiz uma descida perfeita. Cheguei e bati o tempo… lá embaixo ainda teria que esperar o último piloto que havia ganhado o Qualify… foram 60 segundos mais longos da minha vida! Venci
5 – Sua especialidade é o DH, mas temos visto você andando de moto. Pensa em disputar competições no motocross ou velocross? Ou apenas usa as motos para aperfeiçoar sua pilotagem?
Tenho muita bagagem da moto, sei muito, porém nunca me dediquei de verdade. Agora meu foco é disputar o Brmx na categoria MX3. Tenho treinado bastante e me sinto cada semana um pouco mais rápido e seguro. Ainda quero incomodar a turma.
6 – Esse ano tivemos muitas competições adiadas ou canceladas por conta da pandemia. Quando o calendário voltar ao normal quais competições pretende disputar?
Então, seguimos ansiosos e ainda não sei se teremos algo de DH nesse ano, porém o calendário do MX parece estar de pé.
7 – Qual a mensagem que você quer passar para a nova geração que está começando? Incluo seu sobrinho Zion, também atleta da GaiaMX, que vai continuar o legado da família e já desponta no motocross. O que tem a dizer a todos eles?
Insista, persista, mesmo se ninguém acreditar. Continue você mesmo em busca de seus sonhos. Hoje sou um cara realizado por tudo que fiz na vida, os erros e as vitorias sempre me ensinaram muito. Nesses anos todos, aprendi que o determinado sempre vai mais longe que o talentoso. O Zion tem um privilégio, temos muito a passar para ele, que já tem um talento gigante. Porém, o que sempre ensinamos a ele é que ele terá que ter muita determinação e humildade. Como ele é muito novo, nós cobramos muito dele a parte técnica, para que ele aprenda da forma correta. A velocidade virá automaticamente. O menino é bom, tenho certeza de que ele vai romper barreiras, se ele quiser seguir é claro. A caminhada é muito mais dura e difícil do que se parece. Queria agradecer muito a GaiaMX por acreditar na nossa família. Somos infinitamente gratos pelos poucos que nos valorizam. Tudo que fizemos até hoje tem muito amor envolvido.
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